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A gestação é uma fase da vida da mulher que provoca muitas mudanças e desafios, mas também uma das mais felizes e especiais. O olhar mais humanizado nesse momento é essencial, por parte dos profissionais que serão responsáveis por garantir um período tranquilo e saudável, atendendo todas as necessidades e alterações físicas e emocionais dessa gestante.
O cuidado com a saúde da mãe impacta a saúde do bebê. Na gestação se inicia o ciclo dos mil dias, intervalo que engloba os nove meses da gestação (270 dias) e se estende até os 2 anos de vida (730 dias) de uma criança, e é essencial para promoção da saúde em longo prazo!
Os primeiros 1000 dias do bebê são importantes por representarem uma fase crítica do desenvolvimento, ou seja, o ambiente ao qual a criança é exposta nesse período tem impactos na saúde ao longo de toda a sua vida. Para esse efeito permanente, damos o nome de programação metabólica.
Sumário
Programação metabólica e os primeiros 1000 dias do bebê
O estilo de vida saudável desde a fase pré-concepcional até a gestação exerce um impacto significativo no desenvolvimento físico e cognitivo do bebê a longo prazo. E, nesse sentido, o estado nutricional materno e paterno possui alta importância quando falamos na programação metabólica fetal.
No decorrer do desenvolvimento embrionário, observam-se diferentes modificações fisiológicas, anatômicas e epigenéticas, o que faz com que aumente a demanda por nutrientes. Assim, o ajuste adequado na dieta materna e a escolha da suplementação nutricional devem fazer parte da rotina na gestação.
Qual a importância da nutrição nos primeiros mil dias?
Os primeiros 1000 dias do bebê são uma janela de oportunidades fundamental para realizar intervenções que podem beneficiar a saúde das crianças ao longo da vida.
A ingestão insuficiente de nutrientes importantes na gestação pode refletir em prejuízos funcionais, não só para o desenvolvimento fetal placentário, mas até chegar na fase adulta.
Dentre eles, pode-se destacar: déficit de estatura, peso baixo ao nascer, maior probabilidade de contrair infecções oportunistas e atrasos cognitivos. Os estudos mostram, ainda, que a nutrição intrauterina ineficiente pode modificar o genoma e aumentar a suscetibilidade do desenvolvimento de patologias crônicas no futuro, como diabetes e doenças neurodegenerativas.
Muitos relatórios de saúde ressaltaram o impacto das interações entre genótipos e o ambiente uterino. Um documento elaborado pela ASBRAN – Associação Brasileira de Nutrologia em 2019, compartilhou evidências sobre o impacto da nutrição placentária, incluindo a suplementação eficiente, onde os pesquisadores compilaram achados mostrando que irmãos que têm a mesma mãe tendem a apresentar, por exemplo, pesos similares ao nascimento.
Suplementar ômega-3 contribui com a programação metabólica durante a gestação?
Pensando nessa programação intrauterina, o ômega-3 está no topo da lista de recomendações, principalmente o DHA. E estudos científicos afirmam que a suplementação desse nutriente é necessária para a formação de todas as membranas celulares do sistema nervoso central, sendo capaz de auxiliar na proteção do cérebro contra o estresse oxidativo e inflamação, além de ser essencial para o funcionamento dos neurotransmissores.
O DHA ainda, tem um papel efetivo no aumento do peso, do comprimento e da circunferência de cabeça do bebê, na melhora da acuidade visual, na redução de doenças no trato respiratório no primeiro mês de vida e na saúde cognitiva a longo prazo, amenizando o risco de desenvolvimento de neurodegeneração futura.
Outro benefício importante do DHA é em relação ao estado nutricional da mãe. A obesidade pré-gravidez é o principal fator de risco para complicações relacionadas ao aumento de partos prematuros e desequilíbrios na programação metabólica.
Mas, um estudo piloto, conduzido por Monthé-Drèze e publicado em 2021, mostrou que a suplementação com 2 gramas de DHA e EPA durante a gravidez, em mulheres acima do peso, a partir da 10ª semana até o final, pode prolongar o tempo da gestação e favorecer o peso adequado do bebê no nascimento.
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Referências:
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NUTROLOGIA – ASBRAN. Além da nutrição. O impacto da nutrição materna na saúde das futuras gerações. São Paulo: ASBRAN, ago. 2019.
MAROUSEZ, L. et al. Epigenetics: Linking Early Postnatal Nutrition to Obesity Programming? Nutrients, v. 11, n. 2966, p. 1-23, 2019. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6950532/ Acesso em: 20 out. 2021.
MONTHÉ-DRÈZE, C. et al. Effect of Omega-3 Supplementation in Pregnant Women with Obesity on Newborn Body Composition, Growth and Length of Gestation: A Randomized Controlled Pilot Study. Nutrients, v. 1, n. 2, feb. 2021. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7916127/ Acesso em: 20 out. 2021.
RODRÍGUEZ, M. et al. Omega-3 fatty acids during pregnancy and asthma prevention. Are we talking here about more than just a suspect involved?. Evidencias en Pediatria, v. 13, n. 2, p. 1-4, 2017. Disponível em: https://evidenciasenpediatria.es/articulo.php?lang=en&id=7028&tab Acesso em: 20 out. 2021.
OZANNE, S. Metabolic programming—knowns, unknowns and possibilities. Nat Rev Endocrinol, v. 11, p. 67–68, 2015. Disponível em: https://doi.org/10.1038/nrendo.2014.218 Acesso em: 30 nov. 2021.
Nutricionista pela Universidade de São Paulo (USP).
Experiência acadêmica em pesquisa científica, trabalhando com projeto sobre tratamento de epilepsia com dieta cetogênica. Atuação em educação alimentar, desenvolvendo curso de capacitação para professores da rede pública sobre nutrição.
Trabalha com marketing de conteúdo, com foco na divulgação de informação de qualidade baseada em ciência sobre alimentação e suplementação.