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Falta de vitamina D engorda? Dra. Priscila Gontijo explica

Falta de vitamina D engorda.
9 minutos de leitura

A vitamina D é um nutriente importante para diversas funções no metabolismo, as mais conhecidas são suas ações no metabolismo ósseo e esquelético. Mas a vitamina D pode modular 5% do genoma humano, isso significa que ela exerce uma infinidade de funções ainda não esclarecidas no meio científico.

De forma direta a falta da vitamina D não engorda. Porém, a falta da vitamina D pode prejudicar alguns mecanismos biológicos facilitando o desenvolvimento de inflamações que levam ao aumento do peso.

O excesso de peso e a deficiência da vitamina D possuem uma grande relação, e tem ganhado cada vez mais espaço no meio científico. Isso porque o aumento do risco de desenvolvimento de várias outras doenças crônicas como diabetes mellitus tipo 2, hipertensão e doenças cardiovasculares causados pela obesidade, podem ser potencializado pela falta da vitamina D.

O que acontece quando a Vitamina D está baixa?

A vitamina D possui excelente ação anti-inflamatória sobre algumas doenças. Isso acontece porque a vitamina D atua sob o funcionamento do sistema endócrino, podendo ter ação direta na produção e liberação de alguns hormônios.

A falta da vitamina D facilita o desenvolvimento de condições inflamatórias. E a inflamação, por mais leve que seja, aumenta a produção dos hormônios responsáveis por estocar energia no corpo, o que pode gerar um acúmulo de gordura corporal.

Além disso, a produção da insulina, que é o principal hormônio responsável pela entrada de açúcar na célula, é afetada pela falta da vitamina D. Isso prejudica o paladar e o senso de saciedade, fazendo com que a pessoa coma mais e engorde. Há ainda casos onde a falta de vitamina D pode facilitar o desenvolvimento do hipotireoidismo.

Portanto, a falta de vitamina D pode engordar, porém não será a causa principal do aumento do peso.

A falta de Vitamina D contribui para o ganho de peso e obesidade?

É muito comum observar a deficiência de vitamina D em pessoas com sobrepeso e obesidade. Porém não é comum a deficiência de vitamina D ser a causa do aumento de peso.

Ou seja, é mais fácil a obesidade causar a falta da vitamina D no organismo, do que a falta da vitamina D engordar ou causar a obesidade. Essa é a visão científica até o momento.

A primeira vez que os baixos níveis de vitamina D foram associados com a obesidade, foi em um estudo observacional publicado em 1970. Já, 44 anos depois, em 2014, haviam mais de 29.882 estudos confirmando essa associação.

Entre os milhares de estudos há uma revisão de 23 artigos apresentando a maior incidência de deficiência da vitamina D em pessoas obesas ou com sobrepeso quando comparadas com indivíduos com falta da vitamina D e peso adequado.

Na obesidade a incidência de falta de vitamina D é ainda maior, calculada em 35%, do que nas pessoas com sobrepeso, que é de 24%. Esses dados foram confirmados independentemente da idade, latitude ou Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do país. 

Dessa forma, atribuir a falta da vitamina D como causa do ganho de peso pode ser uma conclusão equivocada. Não há dados suficientes para afirmar que a falta da vitamina D é uma causadora de ganho de peso.

A obesidade ou o simples ganho de peso é uma condição de saúde que pode ter muitas causas envolvidas. Mas a falta da vitamina D vista na obesidade é um assunto bem sério e precisa ser tratada porque além do risco das outras doenças crônicas, ainda pode prejudicar a recuperação pós cirurgia bariátrica e até prejudicar a fertilidade. 

Quais as causas para a falta de Vitamina D na obesidade?

Existem várias hipóteses que tentam explicar o por quê da vitamina D ser encontrada em baixas concentrações na obesidade. 

1. Exposição ao sol reduzida

A primeira hipótese é a de que pessoas obesas se expõe menos ao sol, porém é uma ideia pouco aceita entre os cientistas porque o problema parece estar na produção da vitamina D pelo corpo e não na exposição solar.

2. Diminuição da produção de vitamina D

A segunda hipótese é a do feedback negativo da vitamina D, em que a própria vitamina desliga o mecanismo que estimula sua produção. Mas essa ideia já foi rejeitada por muitos cientistas.

3. Tecido adiposo “sequestra” vitamina D

A terceira hipótese está relacionada com a característica da vitamina D se misturar com moléculas de gorduras como os adipócitos (células do tecido adiposo). Essa é uma das mais estudadas e que parece fazer muito sentido.

Já foi visto que as células de gordura do corpo “sequestram” a vitamina D. Mas o mecanismo pelo qual isso acontece ainda não está esclarecido.

4. Aumento da demanda do corpo por vitamina D

A quarta e última hipótese é a da diluição volumétrica, em que o simples fato da pessoa obesa ter mais células, e consequentemente mais volume, a vitamina D se dilui pelo corpo e não consegue atender toda a demanda do organismo.

Essa ideia também parece ser uma causa, visto que pessoas com sobrepeso e obesidade precisam consumir até 5 vezes mais vitamina D do que pessoas com peso adequado para tratar a deficiência da vitamina D. 

Qual o nível correto de Vitamina D?

A classificação quanto aos níveis de vitamina D no organismo é a seguinte:

NÍVEL NO ORGANISMO

DIAGNÓSTICO

Menor do que 10 ng/mL

Muito baixo

Entre 10 ng/mL a 20 ng/mL

Nível baixo

Maior do que 20 ng/mL

Nível normal para população saudável

Entre 30 e 60 ng/mL

Nível adequado para pessoas obesas, idosas, gestantes, pacientes com problemas ósseos, portadores de patologias autoimunes e doença renal crônica e pré-bariátricos.

Como tratar a deficiência da Vitamina D na obesidade?

Pessoas com excesso de peso ou obesidade precisam de doses mais altas de vitamina D para atingir os mesmos níveis de ação do nutriente do que pessoas com peso adequado. 

Tanto crianças quanto adultos obesos precisam ingerir de 2 a 5 vezes mais vitamina D para o tratamento da deficiência de vitamina D do que pessoas com peso adequado.

Existem três formas de tratamento para a deficiência da vitamina D, são elas: as injeções – conhecidas como vitamina D injetável, os remédios e os suplementos. 

1. Vitamina D injetável

A vitamina D injetável oferece doses que variam de 2000 ui a 600.000 ui, é recomendada para casos mais graves em que a falta da vitamina D está associada com outras condições como o hipertireoidismo, hemodiálise e fertilização in vitro.

2. Vitamina D via oral

Já os remédios de vitamina D possuem concentrações que variam de 2.000 ui a 50.000 ui. São os mais recomendados para o início do tratamento da deficiência de vitamina D na obesidade. Mas devem ser usados apenas após orientação médica. 

A falta da vitamina D é tratada inicialmente com altas doses via injeções ou remédios, seguida de doses diárias menores oferecidas por suplementos para manutenção dos bons níveis de vitamina D recuperados.

3. Suplemento de vitamina D

Os suplementos são oferecidos em cápsulas ou gotas e possuem concentrações de até 2000 ui por dose. Podem ser tomados diariamente sem sobrecarregar o organismo, por isso, são indicados para dar continuidade ao tratamento. O uso dos suplementos deve ser contínuo para evitar outra deficiência de vitamina D.

Tomar Vitamina D engorda?

Os suplementos de vitamina D devem ter suas características observadas antes do consumo. Isso porque eles podem ter outras substâncias além da vitamina D. No geral, a vitamina D é um micronutriente sem calorias, portanto, a vitamina D não engorda. 

Sempre pesquise a lista de ingredientes no rótulo do produto. O produto deve ter no máximo 3 ingredientes.

Quanto tempo leva para vitamina D fazer efeito?

Após ingerida, a vitamina D pode levar até 24h para ser convertida na sua forma ativa, ou seja, para fazer efeito. Porém isso varia varia de acordo com cada organismo.

Os resultados físicos, como a melhora da sensação de cansaço constante e força muscular podem ser notados de 1 a 3 meses após o início do consumo do suplemento. 

No entanto, para visualização dos resultados fisiológicos que são os níveis de vitamina D no exame de sangue, o tempo indicado é de 3 meses. 

Quer saber mais?

Referências:

Bassatne A, Chakhtoura M, Saad R, Fuleihan GE. Vitamin D supplementation in obesity and during weight loss: A review of randomized controlled trials. Metabolism. 2019;92:193‐205. Disponível neste LINK

Borges JLC, Miranda ISM, Sarquis MMS, et al. Obesity, Bariatric Surgery, and Vitamin D. J Clin Densitom. 2018;21(2):157‐162.Disponível neste LINK

 Bosdou JK, Konstantinidou E, Anagnostis P, Kolibianakis EM, Goulis DG. Vitamin D and Obesity: Two Interacting Players in the Field of Infertility. Nutrients. 2019;11(7):1455. Published 2019 Jun 27. Disponível neste LINK 

Savastano S, Barrea L, Savanelli MC, et al. Low vitamin D status and obesity: Role of nutritionist. Rev Endocr Metab Disord. 2017;18(2):215‐225. Disponível neste LINK

Lips P, Eekhoff M, van Schoor N, et al. Vitamin D and type 2 diabetes. J Steroid Biochem Mol Biol. 2017;173:280‐285. Disponível neste LINK.

Pereira-Santos M, Costa PR, Assis AM, Santos CA, Santos DB. Obesity and vitamin D deficiency: a systematic review and meta-analysis. Obes Rev. 2015;16(4):341‐349. Disponível neste LINK

Pourshahidi LK. Vitamin D and obesity: current perspectives and future directions. Proc Nutr Soc. 2015;74(2):115‐124. Disponível neste LINK

Walsh JS, Bowles S, Evans AL. Vitamin D in obesity. Curr Opin Endocrinol Diabetes Obes. 2017;24(6):389‐394. Disponível neste LINK.

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Priscila Gontijo Correa

Nutricionista e Mestre em Ciências pela UNIFESP.

Experiência acadêmica em pesquisa científica. Atua como professora convidada em cursos de graduação e pós graduação na área da saúde.

Profissional com sólida formação em pesquisa e inovação. Atua na interseção entre o desenvolvimento de produtos com base em ciências e inovação para a saúde, e o marketing de conteúdo.

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